Corria o ano de 1982. A ditadura militar completava dezoito anos de
opressão e censura, a MPB sobrevivia de metáforas e não se comunicava
com a juventude e o Corinthians era dominado por um mesmo presidente em
um período igualmente longo.
Aproveitando-se da fraqueza política de alguns dirigentes e da má campanha que o time cumpria nos últimos tempos, o melhor jogador do time faz, dentro do clube, o que muitos gostariam de fazer no país: democratiza o processo de tomada de decisões.
Sócrates Brasileiro de Souza, o doutor Sócrates, ou apenas “Magrão”, percebeu que existiam naquele momento e naquele ambiente os ingredientes necessários para uma pequena revolução de idéias e de atitude e iniciou o processo que ficou conhecido como “Democracia Corintiana”: todos que participavam do departamento de futebol – do presidente ao centroavante – tinham o mesmo poder de voto nas principais questões do clube.
No início, não existia nada concreto ou organizado. Eram apenas jogadores que queriam exercer, dentro de seu local de trabalho, a cidadania que lhes era negada em outras esferas da sociedade. Cada membro da equipe passou, então, a ter direito a um voto nas mais variadas questões. Este acabou sendo um momento único do esporte brasileiro, principalmente se levarmos em conta o contexto político vivido no país.
Dentro do universo arcaico e paternalista do futebol brasileiro, nunca antes os jogadores haviam tido tanto espaço para decisões. Aos poucos, a “Democracia” ia tomando corpo, fazendo fama e assustando dirigentes de outros clubes e os militares que ainda se agarravam ao poder. Se era possível que um grupo de jogadores decidisse no voto direto qual seria o horário do treino, se haveria a concentração ou não dos jogadores na véspera de um jogo e até mesmo quais deveriam ser os novos contratados da equipe, era de se temer que, em breve, uma grande parcela do povo brasileiro quisesse ter esses mesmos simples porém proibidos direitos.
Além disso, o Corinthians não era apenas exemplo de democracia e liberdade. No campo, a equipe mais popular de São Paulo levou o troféu em 82 e 83. Os títulos davam a sustentabilidade que o movimento precisava para se fortalecer perante os vigilantes críticos da liberdade de expressão.
Foi também nesta época que as coisas começaram a mudar dentro da música popular brasileira. Uma profusão de bandas, de diferentes estilos e cidades, dizia a mesma coisa: a juventude queria mudanças e, principalmente, liberdade. E foi com o mesmo caldo de revolução vivido pela Democracia Corintiana que Ultraje a Rigor, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Blitz, entre tantas outras, surgiram, conquistaram um publico ávido por novidades e mostrou que era sim possível termos rock n’roll brasileiro de qualidade e com conteúdo.
Durante esse mesmo período, a pressão popular pelo fim da ditadura e pelo direito ao voto direto cresceram. Iniciou-se uma campanha pluri-partidária em prol da emenda do deputado Dante de Oliveira, que garantiria eleições diretas para presidente em 1985 e que ficou conhecida como “Diretas Já”. Comícios e manifestações proliferaram por todo o país. O governo e a grande mídia tentaram esconder, mas a força do movimento foi grande demais e ficar fora dele era dizer não a um Brasil livre e democrático. Os dias do regime militar estavam contados.
Não foi, portanto, surpresa para ninguém, quando os jovens músicos e os jogadores do Corinthians dividiram o espaço no alto dos palanques, ao lado de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.
Lá se vão quase 30 anos e, no entanto, a Democracia Corintiana e as “Diretas Já!” continuam na memória coletiva do povo brasileiro, enquanto o rock brasileiro já se estabeleceu e frutificou em muitas novas bandas.
Nos últimos dois anos, ao lado do amigo Gustavo Gama Rodrigues, tive o prazer de conhecer e entender as principais histórias e personagens destes três universos, ao longo do processo de desenvolvimento e produção do longa-metragem "Democracia em Preto e Branco”. De Sócrates a Frejat, passando pelo presidente Lula, entrevistamos mais de 30 pessoas que participaram ativamente daquela época tão importante para a construção da nação que temos hoje.
É justamente sobre esse período de sonhos, conquistas e desilusões que tratará o filme, uma co-produção entre a TvZer, a Miração Filmes e a ESPN Brasil. Para conhecer mais sobre o filme, que será lançado no segundo semestre de 2013, veja o promo: http://vimeo.com/41201624, visite o blog: http://democraciaofilme.blogspot.com.br/ ou nossa página no facebook: http://www.facebook.com/DemocraciaEmPretoeBranco
Aproveitando-se da fraqueza política de alguns dirigentes e da má campanha que o time cumpria nos últimos tempos, o melhor jogador do time faz, dentro do clube, o que muitos gostariam de fazer no país: democratiza o processo de tomada de decisões.
Sócrates Brasileiro de Souza, o doutor Sócrates, ou apenas “Magrão”, percebeu que existiam naquele momento e naquele ambiente os ingredientes necessários para uma pequena revolução de idéias e de atitude e iniciou o processo que ficou conhecido como “Democracia Corintiana”: todos que participavam do departamento de futebol – do presidente ao centroavante – tinham o mesmo poder de voto nas principais questões do clube.
No início, não existia nada concreto ou organizado. Eram apenas jogadores que queriam exercer, dentro de seu local de trabalho, a cidadania que lhes era negada em outras esferas da sociedade. Cada membro da equipe passou, então, a ter direito a um voto nas mais variadas questões. Este acabou sendo um momento único do esporte brasileiro, principalmente se levarmos em conta o contexto político vivido no país.
Dentro do universo arcaico e paternalista do futebol brasileiro, nunca antes os jogadores haviam tido tanto espaço para decisões. Aos poucos, a “Democracia” ia tomando corpo, fazendo fama e assustando dirigentes de outros clubes e os militares que ainda se agarravam ao poder. Se era possível que um grupo de jogadores decidisse no voto direto qual seria o horário do treino, se haveria a concentração ou não dos jogadores na véspera de um jogo e até mesmo quais deveriam ser os novos contratados da equipe, era de se temer que, em breve, uma grande parcela do povo brasileiro quisesse ter esses mesmos simples porém proibidos direitos.
Além disso, o Corinthians não era apenas exemplo de democracia e liberdade. No campo, a equipe mais popular de São Paulo levou o troféu em 82 e 83. Os títulos davam a sustentabilidade que o movimento precisava para se fortalecer perante os vigilantes críticos da liberdade de expressão.
Foi também nesta época que as coisas começaram a mudar dentro da música popular brasileira. Uma profusão de bandas, de diferentes estilos e cidades, dizia a mesma coisa: a juventude queria mudanças e, principalmente, liberdade. E foi com o mesmo caldo de revolução vivido pela Democracia Corintiana que Ultraje a Rigor, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Blitz, entre tantas outras, surgiram, conquistaram um publico ávido por novidades e mostrou que era sim possível termos rock n’roll brasileiro de qualidade e com conteúdo.
Durante esse mesmo período, a pressão popular pelo fim da ditadura e pelo direito ao voto direto cresceram. Iniciou-se uma campanha pluri-partidária em prol da emenda do deputado Dante de Oliveira, que garantiria eleições diretas para presidente em 1985 e que ficou conhecida como “Diretas Já”. Comícios e manifestações proliferaram por todo o país. O governo e a grande mídia tentaram esconder, mas a força do movimento foi grande demais e ficar fora dele era dizer não a um Brasil livre e democrático. Os dias do regime militar estavam contados.
Não foi, portanto, surpresa para ninguém, quando os jovens músicos e os jogadores do Corinthians dividiram o espaço no alto dos palanques, ao lado de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.
Lá se vão quase 30 anos e, no entanto, a Democracia Corintiana e as “Diretas Já!” continuam na memória coletiva do povo brasileiro, enquanto o rock brasileiro já se estabeleceu e frutificou em muitas novas bandas.
Nos últimos dois anos, ao lado do amigo Gustavo Gama Rodrigues, tive o prazer de conhecer e entender as principais histórias e personagens destes três universos, ao longo do processo de desenvolvimento e produção do longa-metragem "Democracia em Preto e Branco”. De Sócrates a Frejat, passando pelo presidente Lula, entrevistamos mais de 30 pessoas que participaram ativamente daquela época tão importante para a construção da nação que temos hoje.
É justamente sobre esse período de sonhos, conquistas e desilusões que tratará o filme, uma co-produção entre a TvZer, a Miração Filmes e a ESPN Brasil. Para conhecer mais sobre o filme, que será lançado no segundo semestre de 2013, veja o promo: http://vimeo.com/41201624, visite o blog: http://democraciaofilme.blogspot.com.br/ ou nossa página no facebook: http://www.facebook.com/DemocraciaEmPretoeBranco